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RESOLUÇÕES PROFUNDAS II: 15. Sobre a Cronologia Quebrada

27/05/2019

15. Sobre a cronologia quebrada 

Para a vida ser tranquila, para a vida atingir sua plenitude, e para que um indivíduo possa seguir com os seus processos psicológicos em desenvolvimento sadio, de acordo com a ordem e organização pessoal ideal, cada personagem, cada membro da família, cada parte constituinte de nossa vida, precisa estar no lugar certo e desempenhando o seu papel ideal. Se, de alguma maneira, isso foi quebrado, se quem deveria proteger torna-se opressor ou abusivo, isso gera consequências que se mostram como uma quebra dessa cronologia, na forma de traumas, e que perduram por toda a vida. Esse é um ponto muito importante, e é o motivo maior para que esses tópicos tenham sido organizados até aqui. A ruptura da cronologia natural, causada por trauma profundo, ou quando uma figura que deveria contribuir para a construção sadia da personalidade torna-se um vilão, pode romper com todo o sistema de desenvolvimento natural, com a cronologia natural, impedindo que a vida se desenvolva da maneira correta. Entender o papel que temos na vida do outro, dos outros, em nosso círculo, é infinitamente mais importante que compreender os conceitos de ética ou moral. Porque o que importa é pôr em prática as características que nos definem como seres humanos sociais e racionais. 
Quando a ruptura com o ciclo de vida ocorre, a tal ponto que retire a força vital necessária para que se possa trabalhar, por conta própria, em uma situação, é preciso um acompanhamento e será preciso avaliar se as práticas serão apenas essas apresentadas ou se haverá necessidade de mais auxílio. 


A outra dimensão de vida 

Vale um dado a mais, relativo ao que seja a cronologia de vida interrompida ou quebrada. Imaginemos que nossa vida, conforme descrito na Parte V C do livro azul, deveria seguir uma linha, uma cronologia, uma dimensão de vida determinada e que um evento marcante, traumatizante ou forte o suficiente, muda totalmente nossa vida. Caímos, como também definido naquela parte, em uma nova dimensão de vida, criando uma nova forma de nos adaptarmos ao mundo. Imaginamos, e isso é fácil de fazer, que nossa vida se tornou o que temos, o que vivemos agora, absolutamente distante do que haveríamos feito se continuássemos naquela cronologia, original, agora perdida. Assim, hoje, com tudo o que temos e vivemos, fica extremamente difícil, impossível, para a maioria, decidir, mesmo após entenderem que suas cronologias de vida foram modificadas de forma brusca e inesperada, mudar a tudo o que entenderam da vida. Porque, nessa altura, após entenderem que os mecanismos de defesa e todas as suas reações, todas as suas formações reativas e, muito mais, o seu inconsciente, fez as escolhas para sua vida, e que muitas delas foram felizes, trouxeram realizações, como decidir jogar tudo isso para longe, para o alto? Como decidir voltar atrás para reconstruir uma nova vida, que, de alguma maneira, possa ser diametralmente oposta às escolhas realizadas até aqui? 
Essa é a grande dúvida e, mais interessante, é uma dúvida que, para a maioria, ocorre apenas no inconsciente, quando fogem das resoluções sem entender por que o fizeram, quando interrompem os seus processos internos ou quando, simplesmente, entendem que as práticas se tornaram difíceis e que não conseguem mais ir adiante. 
Em outras palavras: É muito difícil mudar aquilo que é a razão de viver, porque toda tua vida foi moldada em cima de uma característica ou em cima do motivo do sofrimento. Então, mudar a característica central, é mudar a própria vida ou o sentido da vida em si. 
Como retirar o sentido da existência? Isso é como querer entender outra vida que nunca foi vivida; é como dar uma chance, para si e para a vida, de uma forma que nunca foi pensada; é a possibilidade de viver uma verdadeira vida paralela, pois a vida real, que deveria estar sendo vivida, nunca foi pensada, porque não se teve a oportunidade de poder vivê-la; mudar isso é como mudar todas as nossas alegrias aqui vividas, nesse mundo paralelo vivido por consequência de um sofrimento; é como retirar o sentido da própria existência... para trazer o real sentido... 


Construindo o adulto protetor 

Outro ponto que, até aqui, ficou apenas subentendido, é quanto a se tornar o próprio adulto protetor e guia da “criança do tempo passado”. Para a realização disso é preciso “construir a personalidade”, equilibrando-a em algum nível, com certo grau de sucesso. Sem a construção da personalidade é impossível tratar da “criança interior”, se podemos chamar assim. Estou falando isso para chamar atenção para o fato de que, em muitas técnicas, de outros métodos e que são muito comuns, é muito indicado algo como um “renascimento”. No entanto, todo renascimento, que não leva em consideração a necessidade de fortalecer, de antemão, a personalidade, para que possa entender os processo e mecanismos aos quais está sujeita e que interferem em sua vida, vai se tornar apenas mais uma “encarnação”. Será como se a pessoa estivesse apenas voltando ao passado para, novamente, reviver todos os seus processos, revivê-los e reativá-los, com mais força, e com toda aquela carga emocional de antes, ou mais, porque foram agora reativadas. Isso quer dizer que, em um primeiro momento, até pode ser que se consiga algum tipo de melhora, como tudo que vemos ser possível que ocorra. Mas, em pouco tempo, instala-se novamente o processo de degradação emocional e as causas reais continuarão a fazer seus estragos no profundo da psique. 
A chave, portanto, está no fortalecimento do adulto, para ser o protetor e guia. Esse fortalecimento exige todo esse processo que estivemos vendo até aqui, de construção da imagem real, da história, da compreensão dos processos e mecanismos e toda a gama de informações e tempo de dedicação que estamos realizando até este ponto. Somente assim nos tornaremos, em certa medida, conscientes de nós mesmos a ponto de podermos voltar, com segurança, com força e plenitude, e por nós mesmos, ao nosso “sofrimento original” para podermos resgatar nossa vida que foi desviada. 


Fases da dissolução 

Vemos, então, que temos três fases importantes no processo de dissolução: 
> A primeira, é a exposição e a dissolução inicial, que traz memórias que podem ser de fatos marcantes ou que elimina características negativas;
> Na segunda fase, retira-se o que fica “grudado”, ainda que resolvido num primeiro instante, mas que já nos dá força para vermos outros aspectos mais profundos;
> Depois, vem um tipo de raiva ou angústia, que pode ser entendido como a raiz profunda que está em nossa alma, ou gravada em nosso ser. Ela será retirada aos poucos, num processo gradativo e contínuo, sempre espaçado por períodos mínimos de 21 dias ativos e passivos: 21 dias de prática e 21 dias de pausa com outras técnicas ou apenas realizando o EBM sem direcionamento direto. 

Formas de visualizar a dissolução 

Precisamos entender que a parte da dissolução é imensamente importante. 
Depois de se encontrar o tema, analisar os fatos, fazer EBM, encontrar o EI, conforto e conversa, agora vem a dissolução. 
É aí que as coisas podem complicar um pouco e, muito frequentemente, no decorrer dos dias de prática, emergir as negações do processo. Em alguns dias, parece que tudo anda bem, a visualização é rápida e eficaz. Noutros, parece que nada ocorre ou que o “lado negro” tomou conta. É preciso usar a raiva positiva, como disse anteriormente, e também usar mecanismos de dissolução. Se apenas visualizar e sentir a bolha dissolver o problema não resolve, ou que ele parece permanecer “mais grudado”, ou que aparecem sensações como uma pressão no cardíaco ou no abdome, então é preciso reforçar a visualização, talvez sentindo que o que se retira vai para o sol ou que é puxado com uma imensa rede azul, e levado para o sol... Em uma prática, tempos atrás, eu senti como se estivesse sendo puxado por esse outro eu, o eu das sombras, como se ele tivesse raízes grudadas em mim, e então eu tive que sentir ele se dissolvendo, como um picolé derretendo, e a parte dissolvida, em vez de escorrer, era levada para a fornalha do sol. 
É preciso sentir a dissolução, que a parte, a característica, a sensação, é retirada e que não resta nenhuma ponta, nenhum resquício de sensação negativa conosco. Por isso é necessário persistir e ter convicção na mudança. Obviamente, não devemos criar obsessão pela dissolução, mas precisamos, essencialmente e acima de tudo, da prática do autoconhecimento como a direção de nossa vida. Esse foco vai nos mostrar o que somos de fato, o que adquirimos e repetimos e o que pode ser fruto de traumas e frustrações. 

Próximo tópico: 16. Formas de visualizar a bolha - Resumo e Como fazer


RESOLUÇÕES PROFUNDAS II - 14. Análise das Consequências

20/05/2019

14. Análise geral das consequências 

É preciso lembrar, mais uma vez, que, como consequência imediata da prática de dissolução profunda, as memórias podem ficar ainda mais vivas, causando um incomodo nos dias seguintes. Mas, isso deve ser um estímulo para continuar com o processo, e não para querer desistir. Quando se retira, ou se começa a retirar, essas camadas mais densas de problemas, é comum que as memórias e as sensações aflorem, parecendo que o efeito foi contrário ao esperado. Os mecanismos de defesa também tendem a ser estimulados, fazendo com que certos padrões de fuga se instalem, dispersando a força que deve ser usada para as práticas. Lembremos do mesmo princípio, já enunciado no Manual do MOINTIAN, referente às iniciações: 
Como consecução do processo de iniciação afirma-se: o que for bom ficará, o que for ruim nunca mais aparecerá. Em todos os aspectos ocorrerão limpezas e transmutações para que a nossa volta apenas harmonia permaneça, mesmo que a princípio pareça o oposto. Podem aparecer situações que, analisadas superficialmente, são contrárias ao nosso bem-estar. Pode ocorrer, por exemplo, o rompimento de um relacionamento aparentemente estável, mas que impedia o fluxo superior de se manifestar plenamente, pelas ligações ou conflitos que gerava. A harmonia que virá depois do período de reajuste será muito maior. (...) De modo geral, toda iniciação denota um processo de reinício, de recomeço, uma espécie de renascimento. É o marco final de um ciclo e entrada em um novo. Isto é simbolicamente representado por um estado de morte, de desprendimento de uma fase que foi importante, cumpriu sua missão em nossa jornada e deve ser deixada para trás, com o propósito de proporcionar uma evolução interior e uma reorganização de padrões em todos os níveis do nosso ser. É preciso, de certa forma, matar apegos e lembranças anteriores, sem reprimi-las, mas superando obstáculos a partir da força de uma iniciação, empregando as técnicas para este propósito. Sem a morte do que ficou para trás, sem o desligamento total dos processos que foram trampolins para a possibilidade desta abertura, não se pode atingir o cume da montanha, que é o renascimento, a elevação e a transmutação interna. Manual do MOINTIAN. Efeitos das Iniciações. p.56-57. 
Todo sentimento negativo tem uma raiz, que pode estar escondida e que precisaria ser analisada e, então, dissolvida. Quando se desconhece a causa original de algum sentimento ou reação, será necessário fazer uma preparação para a dissolução final. Isso tem como objetivo deixar aflorar memórias, sentimentos e sensações que proporcionarão a descoberta das causas profundas. Para isso, pode-se realizar o EBM e a visualização da bolha, como uma conversa com a tua parte que manifesta uma reação, por um período de 21 dias. Mesmo que as memórias não aflorem totalmente, as sensações irão equilibrar-se e será possível realizar um procedimento mais profundo para a situação como um todo. 

A partir do momento que se tem algumas respostas, pode-se isolar ou agrupar situações sobre o mesmo tema original. Então, não seria simplesmente o sintoma, como a ansiedade, por exemplo, mas a perda ou o medo da perda, como reflexo da causa real. Coloca-se aquele medo dentro da bolha, que pode ser o teu medo, vendo a ti com medo e também pode-se colocar a situação lembrada, original, dentro da bolha. Há muitas maneiras de fazer. Mas é preciso chegar na origem. Depois, trabalha-se nas consequências na vida diária, nos impedimentos e nas frustrações que as causas originais deixaram na vida. Assim, quando se dissolve as origens, teremos a manifestação da vida livre. E, somente após isso, as conexões superiores. 
Mas, o estímulo para a continuação será ampliado, mostrando-se como uma oportunidade de crescimento e autoconhecimento. 
> Quando se desconhece uma causa, trabalha-se com as reações;
> Trabalhar com as reações ajuda a amenizar ou dissolver os efeitos das causas profundas, ainda que desconhecidas;
> Trabalhar na origem ou causa, ameniza ou dissolve as reações.
 

Análise das anotações e com os ciclos de humor 

A conversa na bolha é uma técnica importante para identificar aquilo que não precisa mais permanecer conosco, que nos demos por conta que precisa ser extraído e dissolvido. 
Durante a prática, é importante estar plenamente harmonizado e consciente do que se precisa fazer e não deixar que as imagens externas, ou os pensamentos que não condigam com o tema, atrapalhem a concentração. No entanto, e apesar de contraditório, é preciso analisar e anotar todas as imagens e informações que venham como decorrência da execução da técnica, e em todos os passos do processo. Tudo precisa ser anotado, mesmo que não pareça estar conectado com a técnica ou com os argumentos listados. No final da sequência de práticas tudo o que foi anotado será analisado, e poderemos identificar padrões e características que não havíamos reconhecido mesmo durante o período de práticas. O reconhecimento de informações traz um incrível salto, um crescimento interno muito significativo. Essas informações que surjam podem envolver muitos lapsos de memória aparentemente desconexas, mas que fazem parte da reconstrução mental e da personalidade. Quando conseguirmos montar essas ideias, com associações mentais, veremos que evidenciam a retirada mais profunda das emoções gravadas sobre o problema que está sendo trabalhado. Por isso é importante anotar tudo. Durante o processo, pode ocorrer, inclusive, uma variação de bolha, como um reflexo no espelho, no qual a parte que “sai” é a que vê o que está errado: como uma versão melhorada daquele que está tentando mudar uma característica. E, a partir desse ponto, desse ângulo de visão, pode-se entender a característica ou o processo como um todo. 

Quando o processo que estamos resolvendo no período de 21 dias é algo “imposto por nós mesmos” e que se tornou inconsciente (como uma situação de perda que gera uma energia de negação ou procrastinação que impede atos futuros ou a conclusão de projetos de vida) e isso perdura por muitos anos e décadas, é preciso ter ainda mais atenção aos detalhes, às intuições, às informações que nos chegam em horários que não estamos realizando meditações, mas que ocorrem como pequenas lembranças. Temos que ter a presença de espírito para fazermos as associações mentais necessárias e para entendermos que, muitas vezes, boicotamos nossa vida com ordens negativas. E essas ordens permanecem por tantos anos que não nos damos conta de que aquilo estava ocorrendo, podando-nos. Dessa maneira, precisamos estar muito atentos aos mínimos detalhes, tendo consciência de que, quando as informações apareçam, elas deverão ser trabalhadas mesmo após o período dos 21 dias iniciais. O primeiro período vai servir para desbloquear as informações e características. O período de recesso vai amadurecer muitas informações que vão, ainda, demorar algum tempo para que tenham seu efeito real em nossas vidas. Por isso, é preciso persistir ou permanecer com o pensamento da resolução. 

Os cuidados com os ciclos de pensamento, de humor, são muito importantes. Anotar e avaliar quando há variações comuns de humor, períodos nos quais estamos mais sensíveis, verificando se são de ordem emocional ou hormonal. Pode-se anotar em quadro, que servirá para análise. As questões mais profundas exigem certo equilíbrio da personalidade, e não podem ser trabalhadas quando, conjuntamente, afloram sintomas ou sinais de variação de humor, como os decorrentes da TPM. Seria preciso uma avaliação prévia destes períodos de variação de humor e de temperamento, que poderíamos dizer “naturais”, para escolher os momentos mais propícios para as práticas, que seriam momentos de relativo equilíbrio. 

Pensando em tudo o que temos visto até aqui, precisamos refletir sobre nossos gostos e modos de ver e ser. O que acreditamos ou defendemos é nosso pensamento ou é derivado de uma reunião de sensações e impressões, inclusive de nossas limitações e medos? O que nos conduz a sermos como cremos e vemos que somos?

Próximo tópico: 15. Sobre a cronologia quebrada

RESOLUÇÕES PROFUNDAS II - 13. A conversa na bolha - outras considerações e usos

05/05/2019

13. A conversa na bolha – outras considerações e usos 

Indicações 
Com a bolha, também podemos descobrir quem somos. Podemos utilizá-la como um espelho, para que nos mostre quem somos, como nos comportamos, qual nossa postura, como caminhamos, tanto nas reações emocionais como fisicamente. Ela serve para uma autoanálise muito precisa, quando nos vemos dentro dela, nas mais diversas situações, tentando entendê-las ou modificá-las. São inúmeras possibilidades de utilização da conversa na bolha:
> Para o autoconhecimento, quando apenas ficamos em silêncio – aliás, é preciso ter esse momento de meditação apenas no silêncio, sem objetivo, além do momento da conversa na bolha;
> Para dissolver características e hábitos - praticamos por 21 dias ininterruptos, preferencialmente no mesmo horário e no mesmo local;
> Para o trabalho com um trauma ou bloqueio - também durante 21 dias, mas é preciso ter plena consciência das lembranças, memórias e sensações que surjam, anotando todas e analisando se é preciso criar “conversas paralelas” para dissolver as sensações que emergem. Geralmente, a dissolução dessas lembranças que surgem como efeito do trabalho principal não leva tanto tempo, pois são fruto da dissolução da causa real;
> Para retirar um bloqueio e aquela velha forma de visão do “sempre fui assim”, tão retrógrada, que tanto limita e oprime a manifestação real de qualquer um;
> Com os Símbolos E e F - conforme veremos adiante, podemos afirmar e sentir com convicção, antes da técnica da conversa, que ficamos receptivos, abertos ao novo, para que esse novo se manifeste em nosso ser. 

Revendo os passos
Para realizar as conversas, é preciso escolher um tema ou situação por vez, realizando a prática sempre com disposição, com firmeza de propósito, para que os resultados sejam alcançados. 
É importante fazer uma lista com todos os eventos traumatizantes, negativos, montando uma história e realizando, com cada situação, uma conversa de dissolução. Veremos, em um tópico adiante, exemplos de situações para conversas. 
Quando queremos entender a vida, precisamos contar nossa história. Nossa história de vida. Primeiro, contamos para nós mesmos, mas precisa ser a história verdadeira, a história sem máscaras. Assim, vamos entender que as histórias dos outros também são importantes. Por meio das histórias de vida, podemos entender os motivos, as razões pelas quais cada um age e reage. A organização dos temas e fases da vida pode auxiliar a montar a nossa história, reconstruindo “cronologias interrompidas” e resolvendo lacunas de memória e bloqueios, muitas vezes ocasionadas por traumas. 

Todas as situações possíveis podem ser alvo da conversa com a bolha, visualizando-as dentro da bolha ou fora dela. Mas é preciso convicção, persistência e entender que as reações atuais são sempre consequências de algo ocorrido no passado, que pode ser um passado distante, como da infância ou mesmo da gestação, ou um passado recente. Pode-se usar essa força da convicção para dissolver ou ver a situação diferente. 
Podemos visualizar todas essas partes ou características ou reações, como um outro eu, personificado como um outro eu, com a nossa mesma imagem física. Visualizamos isso envolto em uma bolha que sai de nós, do nosso corpo, e fica na nossa frente. Então, conversamos com essa parte ou, simplesmente, se não for possível visualizar, mentalizamos e emitimos, com veemência, frases positivas. As frases precisam ser sempre positivas, precisas, imperativas! 
> Sentes alguma tristeza, alguma mágoa? Visualiza a sensação, a ti mesmo, o sentimento, dentro da bolha, e dissolve, deixando ir embora, sentindo ir embora. Pode ser preciso repetir algumas vezes, quando são sensações, ou apenas uma vez, para situações do cotidiano, de vida normal, mas que te deixam desconfortável ao lembrar seu desfecho.
> Em caso de constrangimento, por exemplo, pode-se ver a situação final, o desfecho de um acontecimento, sem dor, aceitável, dentro de uma convenção pessoal, abraçando-se a si mesmo no passado e trazendo a sensação para o presente.
> Em caso de abuso sofrido, é possível trabalhar nas emoções e em suas consequências conversando com a criança, tu mesmo, acolhendo-a e confortando-a e, assim, o adulto de hoje, o adulto protetor, que tu te tornas, compreende e libera as sensações da criança de então. Num primeiro momento, não entra a questão de perdão ou culpa, mas de rever e entender a situação. Dissolver a situação no passado e entender a situação no presente, desfazendo as consequências, mentalizando fortemente que a vida segue um novo rumo a partir deste momento. Dissolvendo consequências, mas reconstruindo vias para uma cronologia sadia. Nesse caso, a conversa pode ser feita para a situação como um todo, para um conjunto de abusos ou temas, por exemplo, ou para uma pessoa que tenha sido causadora de sofrimentos, que pode ser o pai, mãe ou outra pessoa.
> Pode ser feita a bolha conversando contigo mesmo, agora, com o sentido de que as características negativas, as dores guardadas, as manifestações e 
reações ao passado, sejam eliminadas: 
* conversa para dissolver mágoas ou traumas; 
* conversa para desprogramar hábitos ou características; 
* conversa para ver desfecho de situação diferente:
- voltar no tempo e ver o desfecho diferente;
- voltar no tempo, no final do dia, revendo fatos marcantes, para aprender e entender comportamentos e reações.
Toda lembrança que surja enquanto se realiza uma experiência com a bolha, precisa ser anotada. Ela poderá ser levada para a bolha no dia seguinte. Essa lembrança pode se tornar o novo foco central ou um foco paralelo de dissolução e pode levar menos tempo para ser dissolvida. Ela também indica que houve um avanço no sentido de um aprofundamento com o trabalho de resolução de uma causa profunda. 


O Sucesso na prática e a raiva positiva
No Manual do MOINTIAN, eu falei brevemente sobre a “raiva positiva”. É sabido que, se formos apenas passivos, se deixarmos os acontecimentos passarem sem uma decisão contundente e positiva, nada ocorre, nada muda, ou seremos alvos de um acaso, de alguma força movedora, que nos moveria como se fôssemos marionetes. A Raiva Positiva é aquela vontade latente por uma mudança, que não pode der confundida com a reação a um trauma, ou uma “formação reativa”. É a firmeza de propósito, necessária para que se atinja objetivos e, especialmente, para a remoção de bloqueios profundos. 
O determinante para o sucesso da visualização está em conseguirmos sentir, ver, que a projeção do que se quer é possível que aconteça. É como uma força interna que nos mostra a imagem, já pronta, do que precisamos. E isso, estabelece a diferença entre um sonho longínquo e inatingível, ou que seja derivado de uma associação mental, trauma ou padrão, de um desejo puro, real e necessário, por integrar-se com algo melhor no futuro ou com o “fluxo real de vida”. A Conversa na Bolha pode ser utilizada para trazer harmonia, para estar consciente, presente, pleno; para conquistar um objetivo, quando se complementa com a técnica para “alcançar objetivos”, que está no capítulo 5 do livro laranja. 
Nesse sentido, vemos que a técnica da visualização da bolha, para a eliminação de um hábito ou reprogramação de uma característica, pode ser usada como uma prévia para estabelecer o caminho certo pelo qual a projeção de uma vida melhor se estabeleça. Isso quer dizer que, realizando por vinte e um dias uma sequência correta de visualizações com a bolha, determinando, para si mesmo, a força para essa mudança, e estabelecendo sua necessidade, irá facilitar que a projeção seja efetivada, dado que já estará feito o caminho principal para que ela se estabeleça. Uma ideia de mentalização importante, para essa projeção de vida ideal é internalizar uma frase como: (...) e qualquer parte de mim que seja contrária a isso (...) eu elimino e dissolvo agora! 

É preciso salientar a importância de construir frases sempre positivas. Nosso cérebro não recebe o “não” contido em uma frase. Ele o transforma em “sim”. Dessa maneira, em frases como “não vou esquecer”; “não posso deixar de fazer tal coisa”; “filha, não deixa a luz acesa”, ficará o registro de “vou esquecer”, “posso deixar de fazer tal coisa”, “filha, deixa a luz acesa”. A imagem mental que aparece na construção da frase é a que irá permanecer em nossa memória. Se usamos uma frase como “nunca mais serei assim” ou “não posso continuar assim”, o efeito é o de reforçar o problema ou a característica. Assim, “nunca mudaremos nada” ou permanecemos da mesma maneira. As frases, na construção da história e da ideia para a transformação, precisam ser decisivas: preciso mudar isso! Serei diferente! Posso mudar minha vida e estar livre das interferências e opressões que tentaram me impor! Desfaço agora qualquer contrato, pacto ou convenção, que eu tenha criado ou aceito, consciente ou inconscientemente, e torno-me livre, pronto para assumir uma nova fase da minha vida! São exemplos de afirmações diretas e positivas. Expressam o conceito da “raiva positiva” e mostram que o comando está em nós mesmos. 
É importante analisarmos esse ponto e entendermos a maneira como o cérebro funciona, no aspecto das afirmações. Elaborando uma ordem afirmativa, mas que tem efeito de negação ou que seja o contrário do que precisamos, destrói a possibilidade de mudança e de transformação. 
É preciso entender que um processo de reconstrução importante leva 21 dias para se realizar. Se, por qualquer motivo, houver uma falha de um dia sequer, será preciso reiniciar todo o processo. 
É preciso entender que muitos fatores, justamente por consequência desse trabalho interno emergindo do nosso interior, podem se manifestar como força contrária à sua modificação. Poderá ocorrer de que, em um dia de prática, precisemos reiniciar a tentativa da visualização por três ou quatro vezes até que consigamos realizar corretamente a prática. Além disso, é importantíssimo entender que cada dia é especial e único e que todas as informações precisam se devidamente anotadas, mesmo que pareçam insignificantes ou ilusórias. Elas precisam ser analisadas no decorrer do processo.


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