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RESOLUÇÕES PROFUNDAS II: 15. Sobre a Cronologia Quebrada

27/05/2019

15. Sobre a cronologia quebrada 

Para a vida ser tranquila, para a vida atingir sua plenitude, e para que um indivíduo possa seguir com os seus processos psicológicos em desenvolvimento sadio, de acordo com a ordem e organização pessoal ideal, cada personagem, cada membro da família, cada parte constituinte de nossa vida, precisa estar no lugar certo e desempenhando o seu papel ideal. Se, de alguma maneira, isso foi quebrado, se quem deveria proteger torna-se opressor ou abusivo, isso gera consequências que se mostram como uma quebra dessa cronologia, na forma de traumas, e que perduram por toda a vida. Esse é um ponto muito importante, e é o motivo maior para que esses tópicos tenham sido organizados até aqui. A ruptura da cronologia natural, causada por trauma profundo, ou quando uma figura que deveria contribuir para a construção sadia da personalidade torna-se um vilão, pode romper com todo o sistema de desenvolvimento natural, com a cronologia natural, impedindo que a vida se desenvolva da maneira correta. Entender o papel que temos na vida do outro, dos outros, em nosso círculo, é infinitamente mais importante que compreender os conceitos de ética ou moral. Porque o que importa é pôr em prática as características que nos definem como seres humanos sociais e racionais. 
Quando a ruptura com o ciclo de vida ocorre, a tal ponto que retire a força vital necessária para que se possa trabalhar, por conta própria, em uma situação, é preciso um acompanhamento e será preciso avaliar se as práticas serão apenas essas apresentadas ou se haverá necessidade de mais auxílio. 


A outra dimensão de vida 

Vale um dado a mais, relativo ao que seja a cronologia de vida interrompida ou quebrada. Imaginemos que nossa vida, conforme descrito na Parte V C do livro azul, deveria seguir uma linha, uma cronologia, uma dimensão de vida determinada e que um evento marcante, traumatizante ou forte o suficiente, muda totalmente nossa vida. Caímos, como também definido naquela parte, em uma nova dimensão de vida, criando uma nova forma de nos adaptarmos ao mundo. Imaginamos, e isso é fácil de fazer, que nossa vida se tornou o que temos, o que vivemos agora, absolutamente distante do que haveríamos feito se continuássemos naquela cronologia, original, agora perdida. Assim, hoje, com tudo o que temos e vivemos, fica extremamente difícil, impossível, para a maioria, decidir, mesmo após entenderem que suas cronologias de vida foram modificadas de forma brusca e inesperada, mudar a tudo o que entenderam da vida. Porque, nessa altura, após entenderem que os mecanismos de defesa e todas as suas reações, todas as suas formações reativas e, muito mais, o seu inconsciente, fez as escolhas para sua vida, e que muitas delas foram felizes, trouxeram realizações, como decidir jogar tudo isso para longe, para o alto? Como decidir voltar atrás para reconstruir uma nova vida, que, de alguma maneira, possa ser diametralmente oposta às escolhas realizadas até aqui? 
Essa é a grande dúvida e, mais interessante, é uma dúvida que, para a maioria, ocorre apenas no inconsciente, quando fogem das resoluções sem entender por que o fizeram, quando interrompem os seus processos internos ou quando, simplesmente, entendem que as práticas se tornaram difíceis e que não conseguem mais ir adiante. 
Em outras palavras: É muito difícil mudar aquilo que é a razão de viver, porque toda tua vida foi moldada em cima de uma característica ou em cima do motivo do sofrimento. Então, mudar a característica central, é mudar a própria vida ou o sentido da vida em si. 
Como retirar o sentido da existência? Isso é como querer entender outra vida que nunca foi vivida; é como dar uma chance, para si e para a vida, de uma forma que nunca foi pensada; é a possibilidade de viver uma verdadeira vida paralela, pois a vida real, que deveria estar sendo vivida, nunca foi pensada, porque não se teve a oportunidade de poder vivê-la; mudar isso é como mudar todas as nossas alegrias aqui vividas, nesse mundo paralelo vivido por consequência de um sofrimento; é como retirar o sentido da própria existência... para trazer o real sentido... 


Construindo o adulto protetor 

Outro ponto que, até aqui, ficou apenas subentendido, é quanto a se tornar o próprio adulto protetor e guia da “criança do tempo passado”. Para a realização disso é preciso “construir a personalidade”, equilibrando-a em algum nível, com certo grau de sucesso. Sem a construção da personalidade é impossível tratar da “criança interior”, se podemos chamar assim. Estou falando isso para chamar atenção para o fato de que, em muitas técnicas, de outros métodos e que são muito comuns, é muito indicado algo como um “renascimento”. No entanto, todo renascimento, que não leva em consideração a necessidade de fortalecer, de antemão, a personalidade, para que possa entender os processo e mecanismos aos quais está sujeita e que interferem em sua vida, vai se tornar apenas mais uma “encarnação”. Será como se a pessoa estivesse apenas voltando ao passado para, novamente, reviver todos os seus processos, revivê-los e reativá-los, com mais força, e com toda aquela carga emocional de antes, ou mais, porque foram agora reativadas. Isso quer dizer que, em um primeiro momento, até pode ser que se consiga algum tipo de melhora, como tudo que vemos ser possível que ocorra. Mas, em pouco tempo, instala-se novamente o processo de degradação emocional e as causas reais continuarão a fazer seus estragos no profundo da psique. 
A chave, portanto, está no fortalecimento do adulto, para ser o protetor e guia. Esse fortalecimento exige todo esse processo que estivemos vendo até aqui, de construção da imagem real, da história, da compreensão dos processos e mecanismos e toda a gama de informações e tempo de dedicação que estamos realizando até este ponto. Somente assim nos tornaremos, em certa medida, conscientes de nós mesmos a ponto de podermos voltar, com segurança, com força e plenitude, e por nós mesmos, ao nosso “sofrimento original” para podermos resgatar nossa vida que foi desviada. 


Fases da dissolução 

Vemos, então, que temos três fases importantes no processo de dissolução: 
> A primeira, é a exposição e a dissolução inicial, que traz memórias que podem ser de fatos marcantes ou que elimina características negativas;
> Na segunda fase, retira-se o que fica “grudado”, ainda que resolvido num primeiro instante, mas que já nos dá força para vermos outros aspectos mais profundos;
> Depois, vem um tipo de raiva ou angústia, que pode ser entendido como a raiz profunda que está em nossa alma, ou gravada em nosso ser. Ela será retirada aos poucos, num processo gradativo e contínuo, sempre espaçado por períodos mínimos de 21 dias ativos e passivos: 21 dias de prática e 21 dias de pausa com outras técnicas ou apenas realizando o EBM sem direcionamento direto. 

Formas de visualizar a dissolução 

Precisamos entender que a parte da dissolução é imensamente importante. 
Depois de se encontrar o tema, analisar os fatos, fazer EBM, encontrar o EI, conforto e conversa, agora vem a dissolução. 
É aí que as coisas podem complicar um pouco e, muito frequentemente, no decorrer dos dias de prática, emergir as negações do processo. Em alguns dias, parece que tudo anda bem, a visualização é rápida e eficaz. Noutros, parece que nada ocorre ou que o “lado negro” tomou conta. É preciso usar a raiva positiva, como disse anteriormente, e também usar mecanismos de dissolução. Se apenas visualizar e sentir a bolha dissolver o problema não resolve, ou que ele parece permanecer “mais grudado”, ou que aparecem sensações como uma pressão no cardíaco ou no abdome, então é preciso reforçar a visualização, talvez sentindo que o que se retira vai para o sol ou que é puxado com uma imensa rede azul, e levado para o sol... Em uma prática, tempos atrás, eu senti como se estivesse sendo puxado por esse outro eu, o eu das sombras, como se ele tivesse raízes grudadas em mim, e então eu tive que sentir ele se dissolvendo, como um picolé derretendo, e a parte dissolvida, em vez de escorrer, era levada para a fornalha do sol. 
É preciso sentir a dissolução, que a parte, a característica, a sensação, é retirada e que não resta nenhuma ponta, nenhum resquício de sensação negativa conosco. Por isso é necessário persistir e ter convicção na mudança. Obviamente, não devemos criar obsessão pela dissolução, mas precisamos, essencialmente e acima de tudo, da prática do autoconhecimento como a direção de nossa vida. Esse foco vai nos mostrar o que somos de fato, o que adquirimos e repetimos e o que pode ser fruto de traumas e frustrações. 

Próximo tópico: 16. Formas de visualizar a bolha - Resumo e Como fazer


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